quinta-feira, 6 de novembro de 2008

ANALEPSES DA DOR (PARTE 1)

I
E depois continuei a ter fome de letras belas como quando só se come uma vez por dia, porque sendo assim nem mesmo quem é rico consegue empanturrar-se com textos e mais textos que não são mais do que sopas de letras destemperadas, sem sal nem consistência.

Era muito pequeno e já queria ser grande, pensava que um dia seria
Como o astro da tv, porque tinha uma cara bonita e falava bem.
Mas sentava-me à espera, uma quimera, era o que era…
Brinquei com todos, até com a rapariga dos cabelos de ouro, que eram um tesouro. Sentia-me feliz porque, como qualquer petiz, gostava muito de jogar à bola. Marquei 3 ou 4 golos. Rematei mesmo com força. Acho que foram 3.
Saudade da bola.

Mas também quando era domingo ia à missa e ficava sempre cá atrás. O padre era gordo e consta que teve cancro na garganta. Mesmo assim continuava a falar. Mas não falava muito bem, porque as velhotas tinham os olhos parados. Quase fechados mesmo, só sabiam quando era para levantar. Eu não gostava de estar de pé. Só quando jogava à bola. Nunca ia tomar a hóstia, porque ficava colada ao céu da boca. Mas as velhotas iam. E algumas até aceitavam a hóstia com a mão.

Ia sempre presente à catequese ler textos muito pouco belos sobre Jesus. A catequista não era bonita, mas fui escolhido para ler na comunhão. Foi o padre gordo. Afinal foram 4.
II
Às vezes perco-me na bruma dos objectos que me lembram de uma estrela que via quando assistia ao programa a preto e branco. Era noite e havia água. Não era preciso ir ao encontro do medo que no escuro sussurrava ameaças mortais.

Uma lança no peito recebia no leito de farrapos. Artefactos de pobreza que nem sempre vinham para a mesa.

Mas até via estrelinhas quando fechava os olhos brilhantes secos de lágrimas vindouras. Porque raramente chovia neles. E quando havia chuva era passageira e sem substracto.

III
Sei que agora há horas que vejo douradas e horas que me fazem olhar para o vazio pungente onde coloco o coração. Um dia pára e finda a dor. A dor que abençoa muitos dos que não a suportam porque a têm por companheira eterna.
IV

Realmente hoje não há sol que me aqueça.
Talvez à noite adormeça e embale pelo campo fora.
V

Vou marcar 5 e acordar feliz.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

MÚSICA

Suede
Os Suede eram uma banda da geração da apelidada Brit pop, herdeiros das influências deixadas por Bowie ou mesmo Joy Division. Mas os Suede, apesar da febre que lançaram nas ilhas britânicas na década de 90, diferenciaram-se logo à partida de uma brit pop de massas, bem conduzida por bandas como os Blur, os Oasis ou até mesmo os Pulp. Tudo porque a banda sempre soube escrever e produzir músicas intimistas e extremamente românticas. O Kitsch, passe o chavão por já muitas vezes utilizado, encaixa aqui como uma luva bem ajustada a mãos que tocam guitarras lacrimejantes. Mas é um kitsch cosmopolita, muito a lembrar Morrissey, de amores e desilusões urbanas, de pessoas que se arrastam pelas ruas de Londres, inúteis, gastas pelos sentimentos, à procura do aconchego do sexo oposto. Heróis românticos em busca do glamour das unhas pintadas, cabelos ruivos ondulantes, hálitos de cigarros e modos de aristocratas modernos. São estas as cores que pintam a atmosfera da banda de Brett Anderson.
Suede é como um elixir não de camurça, mas de setim para o desgosto amoroso. Mas é um elixir mortal, porque fere ainda mais, lembra os momentos felizes que ficam a aconchegar a alma, aconchego doce e deprimente.
Anderson é um grande escritor de canções, tal como o é também Bernard Butler, que foi substituído após o primeiro album por Richard Oakes. O diletantismo, o carácter hedonista que sempre acompanharam a postura do vocalista e demais membros do grupo aparecem patentes em temas como Lazy, Saturday night ou até mesmo trash, autêntico hino pós-moderno, ícone da cultura pop dos anos 90.
Hoje em dia já não se ouve falar nos Suede, porque os tempos mudaram as mentalidades e as estéticas acompanharam a era tecnológica até na música, mas a banda britânica teve também evolução de sonoridades, que se tornaram nos seus últimos tempos muito electrónicas (Head Music). De resto, os Suede deram lugar aos The Tears (regresso de Butler) e mais tarde aos projectos a solo de Brett Anderson.

Discografia
BRETT ANDERSON
2008 - wilderness
2007 - Brett Anderson

THE TEARS
2005 - Here come the Tears

SUEDE
2003 - Singles
2002 - A New Morning
1999 - Head Music
1997 - Sci-fi Lullabies (b-sides)
1996 - Coming Up
1994 - Dog Man Star
1993 - Suede

Europe Is Our Playground
Run with me baby, let your hair downthrough every station,
through every town
run with me baby, let's take a chance
from Heathrow to Hounslow,
from the Eastern Block to France
Europe is our playground,
London is our town
so run with me baby now
Run with me baby, let your hair down
through every station,
through every townrun with me baby,
let's make a stand
from peepshow to disco,
from Spain to Camber Sands
Europe is our playground,
London is our town
so run with me baby now...