terça-feira, 13 de julho de 2010

FINAL ÉPICO DE LOST

Jack Shephard tinha que ficar com o papel preponderante no desenlace, porque era a personagem consensual (o abraço de Sawyer, único ao longo de toda a série, comprovam-no por inteiro). Autêntico pastor de homens, conduziu o seu rebanho e “salvou-o” através da manutenção da Luz, uma luz divina símbolo teológico onde cada um busca a paz.
Explicação: O mundo paralelo do “mundo real”, onde as personagens mergulharam após a explosão provocada pelo mesmo Jack não tem tempo, é composto por uma acção que funciona como um purgatório bíblico, onde se resolvem as coisas mal resolvidas das vidas. A Ilha… bem, a Ilha parece um autêntico “centro de comando”, génese de um mundo real com sombras (Platão e a Alegoria da Caverna?), mas um centro de comando que parece também ele orgânico. Como diz Christian (metáfora de Cristo) a Jack na sacristia, “o mais importante da tua vida foi o tempo que passaste com essas pessoas”.
Final: o espectador chora, não porque tenham surgido as revelações bombásticas, mas porque passou 6 anos a acompanhar os dramas daquelas almas perdidas. A técnica narrativa é só por isto excelente: todos esqueceram as explicações que esperavam, porque a paixão não se explica. O Bem triunfou sobre o Mal. O pastor afastou o Fumo Negro do seu rebanho no epílogo de uma luta excelsa entre Deus e o Diabo. A Luz foi preservada e as almas puderam enfim partir em paz.
A cena penúltima dificilmente poderia ser mais bem conseguida e arquitectada: uma Igreja irradiante de luminosidade, a alegoria da entrada no Paraíso. O reencontro entre os amigos verdadeiros numa epifania magistral de sentimentos de lágrimas flutuantes. A redenção de Ben depois de múltiplas metamorfoses é outro dos pontos altos do final, além, claro da assunção definitiva de Kate do seu amor a Jack, a componente romântica central da série.
Tal como durante o período-escotilha, Desmond tem papel fulcral na manutenção do Bem que emana da Ilha. Ele é “activador” da mortalidade do Locke “possuído”, bem como o Mercúrio que convoca os protagonistas para o Concílio final, como um mensageiro de um Deus Maior, que perfaz milagres e dá segundas oportunidades aos pecadores.
Excelente final.