terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"Ela sorriu, e Ele foi atrás"

João Aguardela (1969-2009)

A rádio trouxe uma notícia triste pelo amanhecer escuro e frio, como uma naifa gélida a cortar corações aquecidos. Faleceu em Lisboa com 39 anos João Aguardela, artista na verdadeira acepção, criador de sonhos que são canções tradutoras de uma essência nova e ancestral.
Talvez o maior visionário moderno da música portuguesa, Aguardela trouxe-nos temas de uma portugalidade de metamorfoses cosmopolitas, sempre a misturar notas de guitarra portuguesa triste com o festivo acordeão, numa dança inovadora a absorver tendências universais. A evolução da música portuguesa.

Há muito que não acompanhava de perto os trabalhos do fundador dos Sitiados, mas sabia que estava ali, a ensaiar a dança da música pop, a contar histórias de tristezas saltitantes e fugidías.
Era adolescente quando ouvia a "Vida de Marinheiro", a "Cabana do pai Tomás" ou até "Vamos ao circo". Lembro-me de 2 concertos marcantes, na Figueira da Foz, onde Aguardela transpirava numa apoteose que era para mim a expressão do orgulho musical nacional. Na verdade, um casal como ele e Sandra Baptista (sua mulher) arrastavam o público para a farra, para a dança imparável, como que a desafiar as notas retrógradas do acordeão para ritmos pop modernos.
Depois veio ainda o projecto Megafone e A Naifa, sempre a inovar na defesa da Língua de Camões, das raízes que nos correm no sangue, a nós lusos.
Guardo o LP homónimo cuja compra me terá custado umas calças novas. Valeu a pena, porque o disco continua, perdura num gira-discos que conhece bem os Sitiados. E a Vida de Marinheiro continua pelo tempo fora, sempre alegre, sempre exaltante, a activar memórias, a contar histórias que são bem nossas.
Então, João, leva contigo o acordeão, porque o conheces como ninguém. Por cá, não posso deixar de cair no feliz cliché: "Os dias sem ti / são todos iguais / são estrelas sem brilho / são dias a mais".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TINDERSTICKS REGRESSAM AO PORTO


Os Tindesticks vão voltar ao Porto no dia 14 de Fevereiro. Excelente notícia para os namorados, que podem dar prolongamento a um jantar romântico dirigindo-se à Casa da Música para ver e ouvir um Stuart Staples cuja voz é veludo, mas um velúdo melancólico e pessimista. Mas não é assim mesmo o Romantismo?
Romantismo negro explícito e sem precedentes. É assim mesmo a música de Staples, que fez furor em circuitos mais independentes nos anos 90 e continua ainda hoje a encantar os mais sentimentais. Quem não se apaixonou por "Curtains", quem não caiu numa melancolia depressiva ao ouvir "Marbles"? Quem não deixou fugir uma lágrima ao som de "Let's pretend"? - Eu sim.
Já vi Tindersticks ao vivo em tempos de Coimbra, mas considero-a uma banda de espectáculo de interior, pelo tom intimista da sua música, pela atmosfera fechada e nocturna que consegue transmitir.
Vamos à Casa da Música ver os Tindersticks. Será um prévio agasalho, um aperitivo suave 24 horas antes da viagem à capital para os Oasis.