A atitude da miúda a "arrancar" o telemóvel das mãos da professora fez-me corar de vergonha e consolidar a ideia que há muito habita o meu entendimento: ser professor nesta espécie de país é pior que ser vendedor de areia no Sahara. Porque a areia é o que não falta no deserto e é uma areia gasta, seca, inútil. Um professor neste país, mesmo que seja óptimo, daqueles que fazem parte do nosso imaginário infantil, é um alvo perfeito para chacota.
Os professores encontram-se completamente expostos a uma sociedade que os criou aos milhares, a um governo que se verga perante as “ordens” dos doutores que só servem para diagnosticar gripes e receitar os brufens que mais lhes convém, pavoneando-se como alarves perante a vassalagem de um povo para quem só os médicos são dignos do título… Senhor Doutor, grande especialista… da treta, digo eu. O povo nunca ouviu falar do Derrida e da desconstrução, os doutores também não. Mas eles é que “ordenam”. Os professores são serventes da formação social, serventes em desordem, que já não servem para uma sociedade demasiado avançada em termos técnicos e científicos. A ciência é a prioridade maior deste governo. Veja-se a nova cara do site da DGRHE: um professor, mas de Matemática.
Foi a ciência quem trouxe os objectos da discórdia. Mas não foi com certeza a ciência portuguesa. Tudo começou com os ZX Spectrum, os Amiga; depois vieram os Nintendos, os Segas, as PlayStations e mais não sei o quê, e os telemóveis. Os telemóveis são objectos cujo relevo na vida do ser humano actual faz lembrar o Everest. Ninguém está sem eles, ninguém consegue sobreviver sem a sua privacidadezinha invadida. A aldeia global funciona a partir destes prismas rectangulares minúsculos, antes de se basear na Internet. A dependência deles, que vai muito além da sua utilidade – que é de facto muita – é uma questão real, mas uma questão que devia ser de adultos conscientes da primacia da máquina sobre o ser humano.
O Homem do século XXI depende mais da máquina do que vice-versa e a consciencialização deste fenómeno ainda não é uma dado adquirido, porque a evolução foi demolidora e não deu tempo ao criador para se preparar. É por isso que uma sociedade adulta mal formada ofereceu de bandeja o telemóvel aos seus filhos. O mau exemplo vem de cima, porque não existiram nunca regras claras da utilização de tais aparelhos.
Uma criança com um telemóvel na mão sente-se quase dona do mundo, porque adquire uma liberdade para a qual não está preparada e porque sabe que os pais lhe deram aquela máquina mais por vaidade do que por necessidade. Começa aqui o mau exemplo.
Os professores são pois entidades impotentes perante hábitos enraizados em casa. As crianças, quer queiramos quer não, continuarão sempre a ser um reflexo nítido dos seus progenitores, porque se revêem neles por questões biológicas e porque, em geral, o proteccionismo exacerbado faz parte da educação de qualquer bom pai que se preze.
As referências deturpadas alicerçadas em pais deformados pela sociedade de consumo criam nas crianças valores artificiais e estereotipados. O comodismo inerente à evolução económica e tecnológica fez perder-se no tempo valores humanos genuínos. Já não há humildade para obedecer a um professor como havia outrora – perdoem-me o saudosismo -, já não há o espírito de sacrifício que fez crescer grandes homens às suas custas. O consumismo colocou a Playstation onde antes havia uma bola de futebol num campo de terra negra. Era preciso sujar as mãos para a diversão, hoje suja-se a mente.
A evolução tecnológica é inevitável e útil, bem como uma democratização progressiva da educação, onde crianças têm o direito da crítica que não tinham outrora. Mas o homem actual falha em critério, falha em educação para a tecnologia, falha no abandonar de valores que já foram seus e na sua transmissão aos mais novos, falha no comodismo extremo que oferece aos seus filhos, falha na autoridade. Resultado: crianças providas de espíritos inquietos estimulados pela evolução têm falta de referências sólidas, adquiriram uma liberdade podre.
Muitos professores, à imagem dos pais, estão mal preparados para enfrentar o fenómeno. Porque foram abandonados e descredibilizados em praça pública pela carrancuda doutora ministra. Os pais encontraram nos docentes o seu bode expiatório, limpando a sua consciência de forma leviana. E os doutores continuam a receitar sem avaliação porque são poucos e bons (?) e não têm que tirar o telemóvel a ninguém.
Os professores encontram-se completamente expostos a uma sociedade que os criou aos milhares, a um governo que se verga perante as “ordens” dos doutores que só servem para diagnosticar gripes e receitar os brufens que mais lhes convém, pavoneando-se como alarves perante a vassalagem de um povo para quem só os médicos são dignos do título… Senhor Doutor, grande especialista… da treta, digo eu. O povo nunca ouviu falar do Derrida e da desconstrução, os doutores também não. Mas eles é que “ordenam”. Os professores são serventes da formação social, serventes em desordem, que já não servem para uma sociedade demasiado avançada em termos técnicos e científicos. A ciência é a prioridade maior deste governo. Veja-se a nova cara do site da DGRHE: um professor, mas de Matemática.
Foi a ciência quem trouxe os objectos da discórdia. Mas não foi com certeza a ciência portuguesa. Tudo começou com os ZX Spectrum, os Amiga; depois vieram os Nintendos, os Segas, as PlayStations e mais não sei o quê, e os telemóveis. Os telemóveis são objectos cujo relevo na vida do ser humano actual faz lembrar o Everest. Ninguém está sem eles, ninguém consegue sobreviver sem a sua privacidadezinha invadida. A aldeia global funciona a partir destes prismas rectangulares minúsculos, antes de se basear na Internet. A dependência deles, que vai muito além da sua utilidade – que é de facto muita – é uma questão real, mas uma questão que devia ser de adultos conscientes da primacia da máquina sobre o ser humano.
O Homem do século XXI depende mais da máquina do que vice-versa e a consciencialização deste fenómeno ainda não é uma dado adquirido, porque a evolução foi demolidora e não deu tempo ao criador para se preparar. É por isso que uma sociedade adulta mal formada ofereceu de bandeja o telemóvel aos seus filhos. O mau exemplo vem de cima, porque não existiram nunca regras claras da utilização de tais aparelhos.
Uma criança com um telemóvel na mão sente-se quase dona do mundo, porque adquire uma liberdade para a qual não está preparada e porque sabe que os pais lhe deram aquela máquina mais por vaidade do que por necessidade. Começa aqui o mau exemplo.
Os professores são pois entidades impotentes perante hábitos enraizados em casa. As crianças, quer queiramos quer não, continuarão sempre a ser um reflexo nítido dos seus progenitores, porque se revêem neles por questões biológicas e porque, em geral, o proteccionismo exacerbado faz parte da educação de qualquer bom pai que se preze.
As referências deturpadas alicerçadas em pais deformados pela sociedade de consumo criam nas crianças valores artificiais e estereotipados. O comodismo inerente à evolução económica e tecnológica fez perder-se no tempo valores humanos genuínos. Já não há humildade para obedecer a um professor como havia outrora – perdoem-me o saudosismo -, já não há o espírito de sacrifício que fez crescer grandes homens às suas custas. O consumismo colocou a Playstation onde antes havia uma bola de futebol num campo de terra negra. Era preciso sujar as mãos para a diversão, hoje suja-se a mente.
A evolução tecnológica é inevitável e útil, bem como uma democratização progressiva da educação, onde crianças têm o direito da crítica que não tinham outrora. Mas o homem actual falha em critério, falha em educação para a tecnologia, falha no abandonar de valores que já foram seus e na sua transmissão aos mais novos, falha no comodismo extremo que oferece aos seus filhos, falha na autoridade. Resultado: crianças providas de espíritos inquietos estimulados pela evolução têm falta de referências sólidas, adquiriram uma liberdade podre.
Muitos professores, à imagem dos pais, estão mal preparados para enfrentar o fenómeno. Porque foram abandonados e descredibilizados em praça pública pela carrancuda doutora ministra. Os pais encontraram nos docentes o seu bode expiatório, limpando a sua consciência de forma leviana. E os doutores continuam a receitar sem avaliação porque são poucos e bons (?) e não têm que tirar o telemóvel a ninguém.
2 comentários:
É assim mesmo, não podia estar mais de acordo!
Mais uma vez um comentário digno de publicação. Sociedade podre esta onde vivemos, infelizmente a cartola é azul e não amarela... Saudosismo destes tempos aúreos em que o professor era uma referência e um livro aberto onde se bebia saberes...
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