domingo, 22 de novembro de 2009

SEAN RILEY & THE SLOWRIDERS




Os Slowriders são introspectivos na atmosfera melancólica que patenteia o som que produzem. A voz é de Dylan, sim senhor, apesar de Afonso (Sean Riley) sempre negar a semelhança entre a sua música e a do mentor do folk. A verdade é que Afonso não pode nunca negar a força e a imponência da sua voz, que marca indelevelmente a música da sua banda.
Sean Riley and the Slowriders não são todavia, felizmente, só a voz do seu vocalista. Há folk, blues e rock nos acordes, há um som acústico muito marcado. No entanto, o além vem nas guitarras eléctricas que contrariam um pouco a tradição e o sonho americano, revelando um cariz mais europeu da banda.
Multi-instrumentistas que brincam muitas vezes com os instrumentos, numa roda-viva trepidante, estes rapazes de Coimbra (e Leiria) oferecem-nos músicas de uma alma maior, como se a vida desfilasse por corredores decorados por cores obscuras e impregnadas de sentimentos. No seu primeiro “Farewell”, a acústica é sombra preponderante, com Dylan e Waits bem presentes e um purismo ingénuo e inexperiente bem patente. Mas em “Only time will tell” surge uma sofisticação crescente, um esgar pretencioso e ambicioso, até pela preocupação em integrar convidados mais experientes.
Faixas como “Hold on” (o primeiro single) ou “Tell me why” trazem-me à memória tempos de glória, especialmente a última, para mim bem remniscente de “One of these things first” de Nick Drake. “Tell me why” será, de facto a minha música preferida, já “This woman” é um tema romântico por excelência, muito “Coheniano” no tom e até a lembrar Tindersticks e principalmente Flaming Stars ("A hell of a woman") na essência amargurada e pessimista das letras. De resto, “Working nights” será uma viagem ao Oeste Americano, aos saloons de portas que se abrem e fecham para bailarinas e suas saias de roda. No fundo, o sonho americano também visível na pose dos Slowriders.

Sábado 21, Casa das Artes de Famalicão
O concerto na Casa das Artes de Famalicão foi o esperado: desfile de baladas aconchegantes e impulsos mais ritmados e sonoramente volumosos. Uma atmosfera intimista até pelas dimensões do Café concerto: pessoas sentadas no chão a 2 metros de Sean Riley e uma única fila de lugares sentados com os seus Safaris-cola e Superbocks de lata, mais umas mesas de café num patamar superior. Casais de trintões bem identificados, não só pelas bebidas, mas pelo aspecto intelectualmente altivo e pretensamente maduro: o público dos Slowriders.
A entrada com “Working nights” serviu bem para apresentar aos menos atentos a banda e a sua estética subjacente. Vieram ainda outros hits sempre muito bem interpretados, quer por Sean Riley – sempre muito grato pelos aplausos e deveras preocupado com o impacto da banda e a sua imagem: passou o concerto a apresentar-se -, quer por seus comparsas, com destaque para um novo convidado e amigo da banda, Nuno Lopes no baixo. Destaques para “Houses and wives”, “Talk tonight” (aquele início pede “I used to love her…”), “Harry Rivers” ou “Moving on”. Algum vazio pela ausência do marcante "Hold on".
No final, e depois de um ligeiro incidente com um membro do público, ainda houve tempo para dois encores. E foi assim que Sean Riley se foi após pouco mais de uma hora de actuação, prometendo voltar a Famalicão. Por mim, espero que volte também ao Porto.



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