sábado, 15 de dezembro de 2007

Natal, Arte, Educação... (crónica)

Era uma vez um tempo lendário em que o Natal era uma época onde o Homem vivia a pensar que a magia era verdadeira. Chegada a quadra, tinha poderes para mudar um pouco o mundo onde vivia. Se acaso havia fome, pegava no seu poder para encher as mesas de alimento; se acaso havia doença, o poder mágico purificava o corpo. Durante o ano inteiro, o homem esperava por essa época de catarse, em que todos os males do mundo eram evacuados para um sítio recôndito, uma prisão temporária.
O homem não era contudo capaz de amaldiçoar e aprisionar a dor interior, a melancolia que lhe manchava o dia-a-dia. Então o Natal era triste. Foi triste até à descoberta da arte. Aristóteles viu um dia na arte um meio de purgar a paixão que lhe torturava a alma. Transportando esta linha para o contexto natalício, podemos então considerar que a arte passou a constituir um meio de tornar o Natal uma época pelo menos mais cromática e agradável aos sentidos. Avançando um pouco, satisfeitos os sentidos, a alma pode libertar-se e dar asas à sua alegria natural.
No presente, assiste-se a um fenómeno onde o homem já não tem poderes para apagar as doenças e a fome enquanto fenómenos globais, mesmo na sociedade civilizada. Preocupado ao extremo com as questões da guerra de poderes económicos, o homem acabou também por aprisionar nos confins da sua lembrança o dito lendário poder mágico para se purificar fisicamente e, mais grave ainda, para purificar a sua alma e, com ela, o mundo à sua volta. Por isso há fome, por isso há doenças, por isso há Homens infelizes…
Era importante que, do olhar de uma criança onde as estrelas cintilam quando ela abre o seu presente na noite de Natal, o homem pudesse retirar a chave que abre o cofre dos seus poderes ancestrais para mudar o mundo. Aí reside a verdadeira purificação da alma: tornar o Natal dos outros o mais feliz de sempre, oferecer uma história do passado ou uma imagem colorida, ou uma melodia suave e bela. Lembrar à família, o núcleo desta quadra, o quanto o amor é importante e o futuro pode ser risonho. A magia ou arte em estado puro, brilhante no olhar de uma criança, deve ser explorada pelos pais nesta quadra, para que o Natal possa ser todos os dias. Bom Natal a todos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Exaltação moribunda


Altivo e errante, sigo o eterno instante
Semblante de cobre, gesto compassado sobre
O trilho maldito que leva ao fado. Condenado.
Distorce uma chama
Na chuva que emana
Oblíqua e lenta
Tristeza avarenta, cinzenta e louca
Como o tempo que dorme ao sol do serão
São espadas lacadas
Docemente montadas
Em copas famintas de carícias aladas
Douradas cachopas
Que sangram licor
Demente semente que cresce ao calor.
Sem sabor.
A dor…
O amor…
O torpor.
Fim.
10-12-2007