segunda-feira, 21 de abril de 2008

Pinto Da Costa e a democracia no futebol (crónica)


Lembro-me da forma como sentia as vitórias e as derrotas do FCP em criança. Vibrava como nenhum outro portista. Ficava eufórico quando o FCP ganhava. Chorava por dentro quando perdia, os dias a seguir às derrotas eram penosos... o FCP era quase uma doença que, ora era vibrante como uma febre positiva, uma espécie de ópio que dá moral, confiança, grande "élan"; ora abatia, fazia cair no fundo como numa depressão sonolenta e negra que nos oprime.
Era sempre assim. Poucas outras coisas me afectavam tanto como o meu clube de sempre. Ainda recordo o dia em que me tornei portista: era muito pequeno, não gostava de futebol, detestava mesmo, porque numa época em que a televisão ainda era um fenómeno emergente, um objecto raro, os desenhos animados faziam as delícias dos mais pequenos, e eu não era excepção. O futebol, quando aparecia, estragava esses momentos. Até que um dia... lembro-me que jogava uma equipa vestida de branco listado vertical escuro, não sei se era azul, porque a televisão era naturalmente a preto e branco. Não sei que jogo era, hoje creio que terá sido uma partida das competições europeias. Lembro-me de ver um guarda-redes fabuloso a fazer uma defesa a punhos e a ficar lesionado, largos minutos no chão. Aquele episódio marcou-me, não sei bem porquê, e o meu gosto pelo futebol tinha nascido ali, o meu clube para a vida estava encontrado. Ah, o guarda-redes era o Zé Beto...
Hoje sinto um enorme regozijo e um orgulho incomensurável por ter tido a sorte de, num zapping entre a RTP1 e a RTP2, cair naquele jogo. Não interessa quem era o adversário, nem o resultado (até creio que o FCP perdeu), apenas o momento feliz de ter encontrado um clube que até aí era um desconhecido. Os grandes amores nascem assim.
O FCP acaba de vencer mais um campeonato ou "Liga", e foi um campeonato fácil no campo mas difícil fora dele. Neste país de invejas e sentimentos mesquinhos, existem lobbies e jogos de influência a empurrar o povo para ideologias singulares, para o clube do regime. Sempre foi assim. Para os mais amnésicos ou desconhecedores convenientes da história do futebol em Portugal, recordo as décadas em que o SLB era empurrado pelos Calabotes da arbitragem e pelos Salazares da política, enquanto o FCP era o bobo da corte, o bombo da festa... Não havia reclamações nem apitos dourados, porque o povo e a pressão da imprensa... esses, eram pelo "glorioso", o resto era conversa.
Bom, tempo chegou em que o bobo da corte se fez rei. e fez-se rei à custa de décadas de guerra pela independência, de luta contra a "ditadura". Nas guerras pela democracia, sempre existirão golpes menos éticos, mas a luta é por uma boa causa. Hoje fala-se do Pinto Da Costa e do saneamento do futebol português que tem que acontecer à custa dele. Esse saneamento é o regresso à ditadura, o processo é uma artimanha vil da comunicação social lisboeta que tem eco e apoio na população maioritariamente benfiquista. Por isso tudo é normal e aceitável. O Vieira é o patrono da "limpeza". Só que o Vieira esqueceu-se da mística portista. Esqueceu-se da classe enorme da equipa campeã. Esqueceu-se da organização ímpar de um clube de nível mundial, que ainda há bem pouco tempo arrecadou a Champions league. E o Sr. Vieira está a pagar pela sua conduta. Se Deus existe, ele não dorme, e o resultado está à vista.
Somos os campeões. Ontem custou-me ver a equipa do Benfica a arrastar-se pelo estádio do Dragão. Mas é o sinal dos tempos. O FCP manda dentro dos relvados. Perdoem-me os 6 milhões, mas... os gloriosos somos nós.

1 comentário:

Anónimo disse...

Viva os filhos do dragão e assim como os grandes amores nascem assim entre um zapping,o meu grande amor pelo FCP nasceu de capa e batina com uma corneta na mão e já la vão 1o anos de paixão...