O rapaz chega ao quarto claro, senta na cadeira de madeira, olha para o tecto com as mãos na cara. Correm algumas lágrimas, fica sentado meia hora. Olha em várias direcções, nas paredes só figuras normais. Mais algumas lágrimas que baixam ao queixo, as mãos conseguem amparar outras. Parece meio sufocado pelo escuro que chegou devagar.
O silêncio debaixo da cadeira de madeira vai subindo, ao longe a novela brasileira. Não pertence ali, porque se levanta e desce um túnel que conduz à noite. A cave. Fala aos degraus, confessa tristeza. Agarra o corrimão com a mão molhada de lágrimas salgadas. A madeira do corrimão é a mesma da cadeira, corroída pelo sal dos olhos. A sua pele é rugosa, rugosa só. Rugosa significa desidratada e gasta, corroída talvez pelas lágrimas.
Na manhã seguinte, quarto mais claro, paredes normais, cadeira nada mais rugosa, na mesma. Tudo igual. Apenas as lágrimas secaram. Mostra um sorriso numa manhã com um sol de 20 graus e de olhos semicerrados. Veste uma camisa preta, umas calças azuis e uns sapatos meio esfarrapados mas não pelas lágrimas, pelo pó. Corre para fora do quarto, cheira o ar e os odores de algumas poucas flores que estão ali. Ao longe um homem cava numa terra que não chega a ser completamente verde ao som leve da sirene dos bombeiros que estão mais longe. O homem cava curvado com uma enxada de cabo de madeira que um dia foi rugosa mas de ser nova, agora lisa do uso por mãos rugosas.
O rapaz cheira as flores e ouve a sirene, olha o homem e o espectro da enxada, e pode-se dizer que não sente nada. À noite sim, aí as lágrimas e a lembrança da madeira rugosa ou lisa ou as pétalas rubras guardadas no bolso da camisa.
O silêncio debaixo da cadeira de madeira vai subindo, ao longe a novela brasileira. Não pertence ali, porque se levanta e desce um túnel que conduz à noite. A cave. Fala aos degraus, confessa tristeza. Agarra o corrimão com a mão molhada de lágrimas salgadas. A madeira do corrimão é a mesma da cadeira, corroída pelo sal dos olhos. A sua pele é rugosa, rugosa só. Rugosa significa desidratada e gasta, corroída talvez pelas lágrimas.
Na manhã seguinte, quarto mais claro, paredes normais, cadeira nada mais rugosa, na mesma. Tudo igual. Apenas as lágrimas secaram. Mostra um sorriso numa manhã com um sol de 20 graus e de olhos semicerrados. Veste uma camisa preta, umas calças azuis e uns sapatos meio esfarrapados mas não pelas lágrimas, pelo pó. Corre para fora do quarto, cheira o ar e os odores de algumas poucas flores que estão ali. Ao longe um homem cava numa terra que não chega a ser completamente verde ao som leve da sirene dos bombeiros que estão mais longe. O homem cava curvado com uma enxada de cabo de madeira que um dia foi rugosa mas de ser nova, agora lisa do uso por mãos rugosas.
O rapaz cheira as flores e ouve a sirene, olha o homem e o espectro da enxada, e pode-se dizer que não sente nada. À noite sim, aí as lágrimas e a lembrança da madeira rugosa ou lisa ou as pétalas rubras guardadas no bolso da camisa.
(Rodriguez 2008)
1 comentário:
gostei, mostra a estética cinéfila do dogma 95, aqui aplicada à escrita... um bom exercício q gostaria de ver desenvolvido.
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