Os Tindersticks actuaram na Casa da Música
Dia de São Valentim, 23h, Casa da Música. A entrada para a sala Suggia processa-se a uma lentidão incomodativa. Os bares e locais itinerantes que a circundam a isso ajudam, mas os hábitos dos portugueses continuam a negligenciar uma pontualidade que devia ser herança dos nossos aliados de sempre. Ingleses. Tindersticks. Começam a actuar às 00h30, depois de um rapaz de voz à Dylan e guitarra afinada ter trauteado umas letras bem interessantes em ritmo que me lembrou muito Spain.
Os Tindersticks, como dizia, são bem ingleses, mas têm muito em comum com a alma mal fadada lusitana. A melancolia que é deles também é nossa, o pessimismo e a dor, sempre a dor amarga e soturna. Continuam como nos velhos tempos, talvez menos pessimistas, mas ultra-românticos na pose, clássicos nos arranjos musicais. As composições orquestrais luxuosas e extremamente elegantes só poderiam ter complemento perfeito na voz grave, soturna, aveludada, danificada pelo Whisky e pelos cigarros, de Stuart Staples.
Já referi neste blog que se ouve Tindersticks e se chora um destino romântico adverso, se cai na depressão e na melancolia. Mas é uma melancolia que é doce e macia. Um sentimento de orgulho na dor, na dependência do amor.
O concerto foi aquilo que esperava, nada de novo, nenhuma desilusão. Apenas o lamento pela ausência de vozes femininas como Isabella Rosselini, Ann Magnusson ou Nancy Sinatra, pelo silêncio de "Buried bones", "Jism" ou "Marbles". De resto, os Tindersticks intercalaram velhas faixas como "Dying Slowly", "Sleepy song", "She's gone" ou "Her" com praticamente todas as faixas do último Hungry Saw. Destaco "Yesterday tomorrows", "The flicker of a little girl" ou esse hino aos apaixonados que é "Boobar, come back to me".
No final, alguma mágoa pessoal pelo ambiente de quase adeus aos Tindersticks ao vivo, a emoção de "Tiny tears" e a conviccção de que a maturidade estará próxima, tão próxima como estiveram os cabelos grisalhos de Staples.
Belo dia de S. Valentim, sim.
(fotos Blitz)
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