sábado, 18 de abril de 2009

KUSTURIKA FEZ A FESTA


Emir Kusturika em Gaia, em Novembro do ano passado. Desta vez a festa foi no Rosa Mota

O meu conhecimento acerca do realizador Emir Kusturika reduz-se a 2 dos seus filmes, que ficaram gravados na minha memória e comprovaram a ideia de um realizador marcante do cinema contemporâneo: Underground e Gato Preto, Gato Branco. Derivando a linha de opinião para sua música, conheço o suficiente para comprovar o que vi nos ditos filmes: a ideia que se faz deste sérvio de meia idade a partir por exemplo de Gato Preto, Gato Branco é sem dúvida aquela de alguém cujos cânones estéticos pouco importam quando entrando em colisão com uma cultura social dos balcãs impregnada de grotesco, de caos, de tragi-cómico, de bizarro ou simplesmente de um alegre exuberante sem limites.
E foi mesmo isso que pude viver ontem no Pavilhão Rosa Mota. A entrada em palco da "No Smoking Orchestra" foi tudo menos convencional: Um vinha vestido de revisor de comboio, outro com cartola de mágico "gingão"; um saxofonista que nunca foi a Kansas City, um cantor histérico com roupa de polvo-dragão; o filho de Emir, o irmão do vocalista; um fotógrafo que passou o concerto em pleno palco a exercer o seu ofício, entre os restantes não menos espampanantes. De tudo um pouco.
Entre todos eles, um Senhor de pose serena com sua guitarra, por vezes divertido, é certo, mas sempre em compostura sábia, nem mesmo manchada pelo chapéu à... (hei-de lembrar-me do nome da personagem... é de uma série TV qualquer dos anos 80): o Senhor Emir Kusturika.
A música é folclore balcânico, é música gipsy, é clássica, é pop, é rock, é por vezes até rockabily. É alegria imprevisivelmente e inevitavelmente contagiante, mesmo para quem não gosta ou não conhece. É cinema, é comédia grotesca, é ópera bufa, é lenga-lenga de carrossel de feira, é circo, é festa!
Na verdade, ninguém consegue ficar indiferente ao espectáculo da No Smocking Orchestra; aos saltos demoníacos do seu vocalista, aos gritos de incitamento ao público; aos malabarismos do violino, da percussão, do acordeão, da tuba, dos tambores! O fôlego falta muitas vezes aos artistas, como falta a um público sedento de alegria em tempos de melancolia.
Nele Karajlić, o frenético e bizarro cantor, é um jongleur que incita o público através de impulsos corporais, de acrobacias, de gritos de clichés políticos irónicos, de diálogos quase patéticos, mas muito divertidos, que dão origem a situações completamente insólitas e a uma interactividade nova com o público. Desde miúdas vindas da plateia a dançar no meio do palco, possuídas pela energia dos rapazes sérvios, dando azo inclusivamente, pasme-se, a erros de tradução verdadeiramente inesperados (como explicar à moça que "are you ready" não se traduz por "eu amo-te"?); até à guitarra de Kusturika transformada em violino, passando pela confusão total em palco com invasões sucessivas de público.
Para a festa ser perfeita, só faltava Nele Karajlic apresentar-se como sendo Lisandro Lopez. Rubro no Pavilhão.
"Bubamara", o tema de culto, veio finalmente aconchegar os corações, enquanto a cerveja tardava a encher os copos e o grande "Bino" se regozijava por servir de cicerone espíritual - do meu contagiante grupo de comparsas da festa - de tamanho espectáculo. Mas esta é uma piada privada.
Rodriguez 2009

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