Seguia por entre os pinheiros a cheirar a pinho molhado, uma
forma de deambular o odor de um outono reminiscente de melancolia fria,
distante incessante. Era seminoite, uma urna na memória, um fosso no peito,
pronto a recebê-la. Sempre ofegante, sempre diante do abismo que não tem fim,
um monstro que me atormenta dias e dias e noites. Às vezes é cego meu lamento,
outras, desço pela porta entreaberta do fosso, querendo dormir, querendo
partir. E é sempre fosco meu horizonte. Sempre terna todavia minha melancolia.
Quando o riso efémero entrevê esse lado terno, mistura-se o
peito com a vontade e a aura de rosas rubras, sempre rubras, sempre curvas
ascendentes buscando sol, luz de umas mãos macias, carícias maternais que não
voltaram mais, porque tão pouco estiveram…
Então é tempo de um novo acordar, peito cheio de ar, mãos
altivas, tristezas cativas. Sente-se o perfume de uma nova era, épica,
luminosa, vertiginosa. A angústia severa desiste, o coração resiste ao medo,
como num doce segredo, navega em mar sereno, com gaivotas em terra.
Mas devo voltar ao porto em breve… e as gaivotas estão lá. E
a tempestade é cruel, crua, nua de rosas. E retorno à floresta de pinho, à
porta do ocaso, desço, de sentimento cheio de esperança na desilusão, é doce, é
terno, é já inverno. A última agulha do pinheiro mergulha numa atmosfera fria,
esvoaçando até minhas mãos vazias. Carícia derradeira. O nada que eu sou ali
transformado num momento sublime de ausência.
Como naquela tarde em que vi teus lábios rubros dizer teu
amor… como naquela noite em que me deitei sob teu manto de céu estrelado.
(rodriguez 2014)
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