PLACEBO
Almas gémeas que perduram

Há quem o apelide de emo, mas o que é certo é que Molko quer afundar-nos na coqueterie e no glamour do seu rock de nuances pop e atmosfera obscura e depressiva, criando paralelamente ambiências de um romantismo subtil e claramente noctívago, que se funde com bares nocturnos de Londres ou chama a si um revivalismo da cultura Hacienda do início dos anos 80.
Como eu dizia, ouvia Nancy boy, e depois Teenage Angst, e perguntava-me como era possível criar sonoridades rock de tal forma agrestes e ao mesmo tempo voluptuosas e vibrantes. O purismo da voz e da guitarra de Molko em fusão com um baixo proeminente (nunca um baixo teve tal presença) de Stefan Olsdale, a criar faixas de ambiências pop-rock-punk de vertigens electrónicas: tem sido assim a carreira dos Placebo desde que foram criados em 1995 por um belga (Brian Molko) e por um sueco (Stefan Olsdale).
Apesar da associação a Londres, Os Placebo gostam de ser reconhecidos como uma banda europeia. Na verdade, os três elementos iniciais incluíam ainda o suíço Robert Schultzberg, que depressa daria lugar ao britânico Steve Hewitt. De resto, têm vindo a conquistar fama mundial à medida que vêm lançando álbuns de originais. “Without You I’m Nothing”(1998) vem consolidar um estatuto de banda referência do rock alternativo dos anos 90, já atingido com o álbum homónimo de 1996. Este trabalho prepara ainda os seguidores Indie para uma evolução - que já se vislumbrava no obscuro Pure Morning - por caminhos electrónicos que vão dar a “Black Market Music”(2000) e aos albuns subsequentes.
Além da componente electrónica, o terceiro álbum de originais oferece faixas de um rock progressivamente pacificado, de riffs inicialmente agressivos (Days before you came), posteriormente muito pop, e de letras sobre histórias de traumas sexuais de infância mescladas com clichés do mundo contemporâneo. Slave to the wage lembra Sonic Youth e até mesmo Joy Division, mas tem uma dinâmica e um ritmo muito próprios, seguindo uma cadência que impele para a dança, para a adrenalina pura.
“Sleeping with ghosts ”(2003) oferece-nos algumas das mais excitantes faixas pop do início do milénio. This Picture é o ícone do romantismo kitsh que se abateu sobre a banda. Mas a electrónica continua lá, e sairá vencedora em “Meds”(2006), talvez o melhor álbum de uma banda que soube manter uma coerência evolutiva inteligente, um pouco a lembrar o percurso de Depeche Mode.
Ouço hoje Placebo com o mesmo fascínio e entusiasmo do jovem estudante que procurava e descobria bandas independentes nos tempos de faculdade. Porque o tempo passa, mas há coisas (boas) que ficam. Placebo é uma delas. As almas gémeas perduram.
Rodriguez (Maio 2008)
3 comentários:
Conheço Placebo, como toda a gente, mas posso dizer q ao vivo são ainda melhores.
Foi contigo que conheci esta banda! E quantas vezs iamos até ao grenier acompanhados de umas garrafitas ouvir Placebo antes de ir para o Buraco...Saudades
Placebo... Pois bem, nada a dizer, do melhor... Tb aprendi a gostar de Placebo e posso dizer que me arrepiam e que sinto aquela vibração romântica negra dentro de mim quando os ouço. Running up that hill... As almas gémeas perduram de facto...
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