III
Regresso à claridade aparente de um presente. Dia onde a
memória me atraiçoa uma vez mais. Soma maquinal de jornadas monótonas. Nem tudo
é fundo, nem tudo é incerto. Pedaços de sombra rosada pintam meu acordar em
certa alvorada. Por isso espero ressuscitar-te, homónima figura, transferir tua
ternura outrora insondável para uma nova era.
Vou abraçar-te um dia num choro eterno de acalmia. Sentir
teu rosto seguro acenando amor puro e merecido. Agora é cedo.
IV
Amanhã mergulho na turba sem memória e reflito uma vez mais
luz escura. Palpo terra suja numa eira que devia ser alaranjada e incómoda para
pés descalços. Choro. Fixando o chão enlaçado por raízes adormecidas, revejo
tua aura desconhecida, espectro de vida.
V (mãe)
Recorro à tua figura semiobscura. Como um travo de doce amargura, mesmo doce. Depois ouço a voz fraterna a
indicar-me o caminho, nem sempre guardado por anjos que semeiam flores. Às vezes
é vaga e escassa a luz que incendeia o breu invencível. Às vezes cheiro o pão
dourado pela brasa de uma infância quase esquecida, mas desejada. Os pés frios
persistem, mesmo se as botas de borracha gélida se esboroaram no comboio dos
anos. Antes mais quentes.
VI
A saudade da saudade de ti, mãe. Hoje te invoco sem pudor,
anseando pelo teu amor também dourado, teu peito seguro. Outro caminho teria
seguido, não fora tu teres partido sem que ao menos tua mão áspera me tivesse
acenado outro caminhar. Às vezes toco tua face que nem sequer existe. É sempre
um sonho feliz e triste.
rodriguez 2013
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