quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

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III

Regresso à claridade aparente de um presente. Dia onde a memória me atraiçoa uma vez mais. Soma maquinal de jornadas monótonas. Nem tudo é fundo, nem tudo é incerto. Pedaços de sombra rosada pintam meu acordar em certa alvorada. Por isso espero ressuscitar-te, homónima figura, transferir tua ternura outrora insondável para uma nova era.
Vou abraçar-te um dia num choro eterno de acalmia. Sentir teu rosto seguro acenando amor puro e merecido. Agora é cedo. 
IV
Amanhã mergulho na turba sem memória e reflito uma vez mais luz escura. Palpo terra suja numa eira que devia ser alaranjada e incómoda para pés descalços. Choro. Fixando o chão enlaçado por raízes adormecidas, revejo tua aura desconhecida, espectro de vida.
 
V (mãe) 
Recorro à tua figura semiobscura. Como um travo de doce amargura, mesmo doce. Depois ouço a voz fraterna a indicar-me o caminho, nem sempre guardado por anjos que semeiam flores. Às vezes é vaga e escassa a luz que incendeia o breu invencível. Às vezes cheiro o pão dourado pela brasa de uma infância quase esquecida, mas desejada. Os pés frios persistem, mesmo se as botas de borracha gélida se esboroaram no comboio dos anos. Antes mais quentes.
 
 
VI
A saudade da saudade de ti, mãe. Hoje te invoco sem pudor, anseando pelo teu amor também dourado, teu peito seguro. Outro caminho teria seguido, não fora tu teres partido sem que ao menos tua mão áspera me tivesse acenado outro caminhar. Às vezes toco tua face que nem sequer existe. É sempre um sonho feliz e triste.
 
rodriguez 2013

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