PLACEBO
Almas gémeas que perduram
Lembro-me de ouvir Nancy boy pela primeira vez por volta de 96 ou 97, no Bergantim, ou Bergas para os clientes habituais, aqueles que se recolhiam de mente abafada às 9h da matina, depois de uma noite por entre fumo de tabaco (?) e vodka, whisky, cerveja, Smiths, The Cure ou Depeche mode. E soou-me muito bem, aquele rock frenético de acordes neo-punk, a lembrar Pixies. Aquela voz feminina agreste de um Brian Molko ainda na fase declaradamente andrógina e travestida. A agressividade dessa voz “caprina” (perdoem-me a analogia) que arranhava a guitarra vibrante do próprio e o baixo de Olsdale, entrando-nos pelos ouvidos num ritmo a suscitar movimento depressivo, numa dança decadente e voluntariamente pessimista e underground.
Há quem o apelide de emo, mas o que é certo é que Molko quer afundar-nos na coqueterie e no glamour do seu rock de nuances pop e atmosfera obscura e depressiva, criando paralelamente ambiências de um romantismo subtil e claramente noctívago, que se funde com bares nocturnos de Londres ou chama a si um revivalismo da cultura Hacienda do início dos anos 80.
Como eu dizia, ouvia Nancy boy, e depois Teenage Angst, e perguntava-me como era possível criar sonoridades rock de tal forma agrestes e ao mesmo tempo voluptuosas e vibrantes. O purismo da voz e da guitarra de Molko em fusão com um baixo proeminente (nunca um baixo teve tal presença) de Stefan Olsdale, a criar faixas de ambiências pop-rock-punk de vertigens electrónicas: tem sido assim a carreira dos Placebo desde que foram criados em 1995 por um belga (Brian Molko) e por um sueco (Stefan Olsdale).
Apesar da associação a Londres, Os Placebo gostam de ser reconhecidos como uma banda europeia. Na verdade, os três elementos iniciais incluíam ainda o suíço Robert Schultzberg, que depressa daria lugar ao britânico Steve Hewitt. De resto, têm vindo a conquistar fama mundial à medida que vêm lançando álbuns de originais. “Without You I’m Nothing”(1998) vem consolidar um estatuto de banda referência do rock alternativo dos anos 90, já atingido com o álbum homónimo de 1996. Este trabalho prepara ainda os seguidores Indie para uma evolução - que já se vislumbrava no obscuro Pure Morning - por caminhos electrónicos que vão dar a “Black Market Music”(2000) e aos albuns subsequentes.
Além da componente electrónica, o terceiro álbum de originais oferece faixas de um rock progressivamente pacificado, de riffs inicialmente agressivos (Days before you came), posteriormente muito pop, e de letras sobre histórias de traumas sexuais de infância mescladas com clichés do mundo contemporâneo. Slave to the wage lembra Sonic Youth e até mesmo Joy Division, mas tem uma dinâmica e um ritmo muito próprios, seguindo uma cadência que impele para a dança, para a adrenalina pura.
“Sleeping with ghosts ”(2003) oferece-nos algumas das mais excitantes faixas pop do início do milénio. This Picture é o ícone do romantismo kitsh que se abateu sobre a banda. Mas a electrónica continua lá, e sairá vencedora em “Meds”(2006), talvez o melhor álbum de uma banda que soube manter uma coerência evolutiva inteligente, um pouco a lembrar o percurso de Depeche Mode.
Ouço hoje Placebo com o mesmo fascínio e entusiasmo do jovem estudante que procurava e descobria bandas independentes nos tempos de faculdade. Porque o tempo passa, mas há coisas (boas) que ficam. Placebo é uma delas. As almas gémeas perduram.
Há quem o apelide de emo, mas o que é certo é que Molko quer afundar-nos na coqueterie e no glamour do seu rock de nuances pop e atmosfera obscura e depressiva, criando paralelamente ambiências de um romantismo subtil e claramente noctívago, que se funde com bares nocturnos de Londres ou chama a si um revivalismo da cultura Hacienda do início dos anos 80.
Como eu dizia, ouvia Nancy boy, e depois Teenage Angst, e perguntava-me como era possível criar sonoridades rock de tal forma agrestes e ao mesmo tempo voluptuosas e vibrantes. O purismo da voz e da guitarra de Molko em fusão com um baixo proeminente (nunca um baixo teve tal presença) de Stefan Olsdale, a criar faixas de ambiências pop-rock-punk de vertigens electrónicas: tem sido assim a carreira dos Placebo desde que foram criados em 1995 por um belga (Brian Molko) e por um sueco (Stefan Olsdale).
Apesar da associação a Londres, Os Placebo gostam de ser reconhecidos como uma banda europeia. Na verdade, os três elementos iniciais incluíam ainda o suíço Robert Schultzberg, que depressa daria lugar ao britânico Steve Hewitt. De resto, têm vindo a conquistar fama mundial à medida que vêm lançando álbuns de originais. “Without You I’m Nothing”(1998) vem consolidar um estatuto de banda referência do rock alternativo dos anos 90, já atingido com o álbum homónimo de 1996. Este trabalho prepara ainda os seguidores Indie para uma evolução - que já se vislumbrava no obscuro Pure Morning - por caminhos electrónicos que vão dar a “Black Market Music”(2000) e aos albuns subsequentes.
Além da componente electrónica, o terceiro álbum de originais oferece faixas de um rock progressivamente pacificado, de riffs inicialmente agressivos (Days before you came), posteriormente muito pop, e de letras sobre histórias de traumas sexuais de infância mescladas com clichés do mundo contemporâneo. Slave to the wage lembra Sonic Youth e até mesmo Joy Division, mas tem uma dinâmica e um ritmo muito próprios, seguindo uma cadência que impele para a dança, para a adrenalina pura.
“Sleeping with ghosts ”(2003) oferece-nos algumas das mais excitantes faixas pop do início do milénio. This Picture é o ícone do romantismo kitsh que se abateu sobre a banda. Mas a electrónica continua lá, e sairá vencedora em “Meds”(2006), talvez o melhor álbum de uma banda que soube manter uma coerência evolutiva inteligente, um pouco a lembrar o percurso de Depeche Mode.
Ouço hoje Placebo com o mesmo fascínio e entusiasmo do jovem estudante que procurava e descobria bandas independentes nos tempos de faculdade. Porque o tempo passa, mas há coisas (boas) que ficam. Placebo é uma delas. As almas gémeas perduram.
Rodriguez (Maio 2008)