A crise faz-nos vaguear por uma existência limitada em termos materiais, obviamente; atormenta-nos o sono e as horas imensas de trabalho, que se arrasta até a um quase pôr-do-sol que é uma vaga de ar fresco ao fim de mais uma jornada onde tudo parece cinzento, repetitivo, rotineiro ao limite. Rotineiro porque não parece haver esperança.
O maldito crédito subprime americano, que é indissociável da hedionda subida das taxas de juro e da baixa dos mercados bolsistas que conduz ao aumento brusco do preço do petróleo, alterou toda a economia mundial. Este claro sinal da globalização imposta progressivamente pelos americanos é paradigma de uma nova ditadura que, apesar de tudo, nem é capaz de chegar aos países produtores de crude, cuja flexibilidade na oferta desse produto é como se sabe limitada. Daí a subida desenfreada do ouro negro.
Sem querer entrar em teorias políticas para as quais não creio ter vocação, sempre considero a globalização um factor de desagregação, não só cultural, mas também económica. Porque a liberdade comercial sai claramente afectada nesta dependência dos mercados americanos, como se uma peça de dominó caísse e fizesse desmoronar todo o resto. Enquanto português e europeu, sinto-me obviamente condicionado pela americanização do mundo onde vivemos, onde os mais poderosos ditam leis. Aquele adormecimento de que falava no início do texto é resultante do fenómeno anterior. Tudo é monótono e previsível, como se o nosso planeta fosse uma laranja mecânica onde tudo funciona em aparente harmonia. Aparente, sim, apenas. Estamos cada vez mais próximos da realidade profetizada pelos irmãos Wachowski, onde o ser humano é controlado por uma máquina que, neste caso, é uma máquina humana e de interesses económicos. Será a mente humana capaz de se libertar da opressão do tédio americano? Creio que sim, porque é uma mente complexa e inventiva, que passa por estados de adormecimento para depois acordar e se revoltar. A história prova-nos isso. A crise será fugaz também, acredito.
Portugal, pobre país da fragilizada Europa, sofre. Sofre porque a gasolina é mais cara do que em Espanha enquanto o salário mínimo é mais baixo. Que destino cruel este de um povo que parece ter a vertigem do sofrimento, o fado que também se arrasta pelo tempo fora. Já senti muitas vezes que teria sido benéfico para nós se essa mesma história nos tivesse conduzido a uma ausência de D. Afonso Henriques, a um país-potência que teria sido a Península Ibérica. Mas depois penso numa identidade que é de facto forte dentro da sua fragilidade. Portugueses são homens bravos que lutam pela vida como guerreiros cujo poder é incerto porque sofre com circunstâncias adversas. Lembro-me de palavras proferidas por génios lusos, desde Pessoa até Virgílio Ferreira ou Sophia. E sinto algo cá dentro, como quando se ouve o hino num campo verde rodeado de uma turba embalada pelo sentimento patriótico. Acredito que esta nossa capacidade de sofrimento, espírito de sacrifício é um dom tão belo como o fado. A bonança virá, só pode vir.
O maldito crédito subprime americano, que é indissociável da hedionda subida das taxas de juro e da baixa dos mercados bolsistas que conduz ao aumento brusco do preço do petróleo, alterou toda a economia mundial. Este claro sinal da globalização imposta progressivamente pelos americanos é paradigma de uma nova ditadura que, apesar de tudo, nem é capaz de chegar aos países produtores de crude, cuja flexibilidade na oferta desse produto é como se sabe limitada. Daí a subida desenfreada do ouro negro.
Sem querer entrar em teorias políticas para as quais não creio ter vocação, sempre considero a globalização um factor de desagregação, não só cultural, mas também económica. Porque a liberdade comercial sai claramente afectada nesta dependência dos mercados americanos, como se uma peça de dominó caísse e fizesse desmoronar todo o resto. Enquanto português e europeu, sinto-me obviamente condicionado pela americanização do mundo onde vivemos, onde os mais poderosos ditam leis. Aquele adormecimento de que falava no início do texto é resultante do fenómeno anterior. Tudo é monótono e previsível, como se o nosso planeta fosse uma laranja mecânica onde tudo funciona em aparente harmonia. Aparente, sim, apenas. Estamos cada vez mais próximos da realidade profetizada pelos irmãos Wachowski, onde o ser humano é controlado por uma máquina que, neste caso, é uma máquina humana e de interesses económicos. Será a mente humana capaz de se libertar da opressão do tédio americano? Creio que sim, porque é uma mente complexa e inventiva, que passa por estados de adormecimento para depois acordar e se revoltar. A história prova-nos isso. A crise será fugaz também, acredito.
Portugal, pobre país da fragilizada Europa, sofre. Sofre porque a gasolina é mais cara do que em Espanha enquanto o salário mínimo é mais baixo. Que destino cruel este de um povo que parece ter a vertigem do sofrimento, o fado que também se arrasta pelo tempo fora. Já senti muitas vezes que teria sido benéfico para nós se essa mesma história nos tivesse conduzido a uma ausência de D. Afonso Henriques, a um país-potência que teria sido a Península Ibérica. Mas depois penso numa identidade que é de facto forte dentro da sua fragilidade. Portugueses são homens bravos que lutam pela vida como guerreiros cujo poder é incerto porque sofre com circunstâncias adversas. Lembro-me de palavras proferidas por génios lusos, desde Pessoa até Virgílio Ferreira ou Sophia. E sinto algo cá dentro, como quando se ouve o hino num campo verde rodeado de uma turba embalada pelo sentimento patriótico. Acredito que esta nossa capacidade de sofrimento, espírito de sacrifício é um dom tão belo como o fado. A bonança virá, só pode vir.
6 comentários:
Como dizia Bernardo Soares, heterónimo de Pessoa: "minha pátria é a língua portuguesa".
Ser português, segundo um dos meus poetas de eleição, António Gedeão:
Poema da malta das naus
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
Quase caí na tentação de reproduzir um poema da "Mensagem", mas deixo isso para os comentadores. Gosto mto do Gedeão também.
ah, é verdade, já me esquecia, Bernardo Soares não chegou ao estatuto de heterónimo dos outros 3,é um semi-heterónimo de Fernando Pessoa "porque - como afirma o seu próprio criador - não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação".
Ser português é vibrar com este poema, é responder um "tudo vale a pena se a alma não é pequena" quando alguém nos pergunta: valeu ou vale a pena?
X. MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
Não podia também faltar a Sophia, neste elogio à pátria, no tempo de outras aventuras e lutas...
Pátria
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável
E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas
- Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro
Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Ser português é venerar um seleccionador brasileiro q n percebe nada de bola, come-nos por parvos, leva o nosso dinheiro e ainda mostra arrogância...mmo assim, o povo fica louco qdo ele aparece a sair do autocarro da selecção... Nisso n me sinto nada português.
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